Por Que Todo Jogo Precisa de um Modo Fácil (E Por Que Isso Não Vai Ferir Seu Ego Gamer)
A essa altura do campeonato, você provavelmente já viu alguma discussão acalorada na internet sobre modos de dificuldade em videogames. De um lado, os puristas defendem que o sofrimento é parte da experiência. “Git gud”, dizem eles, esfregando as mãos suadas enquanto ajustam o brilho do monitor. Do outro lado, temos aqueles que querem apenas se divertir depois de um dia longo e cansativo, mas são recebidos com olhares de desdém. Pois bem, estou aqui para dizer: o modo fácil não é o vilão dessa história. Na verdade, ele é o herói que nós merecemos, mas que nem todos estão prontos para abraçar.
Antes de você levantar seu controle como um cavaleiro medieval pronto para defender sua honra, vamos tirar uma coisa do caminho: o modo fácil não é para você. Ou talvez seja! E, se for, tudo bem. Mas o ponto é que sua existencia permite que mais pessoas possam experimentar o que há de melhor nos games sem precisar passar horas dominando mecânicas complexas ou enfrentando chefões que parecem ter saído de um curso intensivo de tortura psicológica. Agora que estamos alinhados, vamos conversar sobre o assunto.
1. O Modo Fácil Não Rouba Sua Experiência
O maior argumento contra o modo fácil é que ele, de alguma forma, desvaloriza a experiência do jogo. Isso faz tanto sentido quanto dizer que você não pode se orgulhar de correr uma maratona porque outra pessoa decidiu fazer o trajeto de ubber. Cada jogador tem sua própria jornada, e o fato de que alguém escolheu uma rota diferente não invalida a sua. O importante não é o fim, mas, como você, no maximo de sua individualidade, se divertiu e se apaixou com a jornada.
Quer desafiar suas habilidades? Escolha o modo hardcore. Quer explorar o mundo do jogo sem se preocupar com um inimigo te matando com um tapa? O modo fácil está ali para isso. Não há nenhum botão mágico que transforma sua experiência em algo menos significativo só porque outra pessoa fez escolhas diferentes.
2. Inclusão é Importante
Nem todo mundo tem as mesmas habilidades motoras ou a mesma capacidade de aprender mecânicas complexas. Videogames são para todos, não apenas para aqueles que conseguem memorizar padrões de ataque ou realizar combos infinitos sem suar. Um modo fácil permite que pessoas com deficiências, idosos, crianças e até mesmo quem simplesmente não tem tempo para dedicar 80 horas a um jogo possam aproveitar a experiência.
Se a indústria de games quer realmente ser um espaço para todos, precisa abraçar a diversidade de jogadores. E sabe qual é o melhor jeito de fazer isso? Dando opções. Não é forçar ninguém a jogar de um jeito específico, mas permitir que cada um escolha como prefere se divertir. As pessoas são diferentes.
3. Histórias Merecem Ser Contadas e Vividas
Alguns jogos têm narrativas incríveis, verdadeiras obras-primas que rivalizam com os melhores filmes ou livros. Pense em jogos como The Last of Us, Red Dead Redemption 2 ou Dark Souls. Agora imagine uma pessoa desistindo de jogar porque ficou presa em uma seção específica ou porque as mecânicas são muito complexas. Todas as outras artes envolvidas acabam perdidas por este jogador. Isto é mesmo interessante?
O modo fácil permite que mais pessoas experimentem essas histórias. E se você realmente acha que a narrativa de um jogo só é valida se vier acompanhada de 30 horas de frustração, talvez seja hora de reavaliar suas prioridades.

4. Ninguem é Obrigado a Jogar no Fácil
Há uma ideia estranha de que jogos difíceis são automaticamente melhores. Claro, há um público para isso, mas, a existencia de um modo fácil não impede a existência do modo difícil. Você pode continuar escolhendo o modo em que você sente que o jogo é melhor. E é bom lembrar que mesmo jogos aclamados pela dificuldade como Dark Souls e Sekiro, já tiveram diversos bosses nerfados pois estavam difícil demais. Se você acha que jogos não devem ter modo fácil o que você praticamente está dizendo é que apenas você e seus iguais é que devem se divertir com aquele jogo. Um verdadeiro clube motivado pelo puro e simples… ego.
Quantas vezes você já viu alguém se gabar de ter derrotado um chefão sem tomar dano ou de ter terminado um jogo no modo mais difícil? Isso é legal e impressionante, mas às vezes parece que a verdadeira motivação não é o prazer de jogar, mas sim a validação externa. E tudo bem querer um desafio, mas não precisamos transformar isso em um requisito para todos. E se a validação externa é mesmo tão importante para ti, vale lembrar que o modo fácil simplesmente não impede isto de acontecer. Quer um exemplo? Guitar Hero. Guitar Hero sempre teve escolhas de dificuldade e ainda assim existe comunidade inteiras se desafiando em toda uma música melhor no modo difícil.
5. Tempo é Um Recurso Valioso
Vamos encarar a realidade: nem todo mundo tem 10 horas por dia para se dedicar a um jogo. Alguns jogadores têm trabalhos exigentes, filhos para cuidar, ou outras responsabilidades. Para essas pessoas, o modo fácil é uma forma de aproveitar os games sem precisar sacrificar partes importantes de suas vidas.
O ponto é que o modo fácil respeita o tempo do jogador. Se você quer passar 3 horas aprendendo o momento exato para desviar de um ataque, isso é fantástico. Mas se outra pessoa quer usar essas mesmas 3 horas para explorar a história, resolver quebra-cabeças ou simplesmente relaxar, por que isso seria menos válido?
6. Arte Para Todos, Não Para Poucos
Um jogo é uma junção de diversas formas de arte: design gráfico, trilha sonora, narrativa, atuação, e muito mais. Ele é uma experiência multimídia que transcende o simples ato de jogar. Agora imagine que, ao dificultar o acesso ao jogo, estamos criando um filtro que impede que uma grande parte do público aprecie essas artes.
Isso cria um elitismo cultural, onde apenas aqueles dispostos ou capazes de superar barreiras específicas podem experimentar a obra por completo. É como colocar uma senha na entrada de um museu e exigir que só quem resolva um quebra-cabeça intrincado possa entrar. Isso não só limita o alcance da arte, como também contraria o propósito de expressão universal que está no coração de qualquer forma artística.
Um modo fácil é, na verdade, um convite. Ele abre as portas para que mais pessoas vejam, ouçam e sintam o que todos os artistas envolvidos criaram. E isso não diminui a experiência de ninguém — apenas amplia o público que pode apreciá-la.
7. O Modo Fácil Não Diminui Seu Status
Por fim, vamos falar sobre o elefante na sala: o ego gamer. Muitos jogadores se opõem ao modo fácil porque sentem que isso de alguma forma tira o brilho de suas conquistas. Mas aqui está a verdade dura e crua: suas conquistas são suas. O fato de que outra pessoa jogou de uma forma diferente não diminui o que você alcançou.
Ninguém olha para um halterofilista medalhista olímpico e diz: “Eu também levanto o mesmo peso usando uma empilhadera”. Da mesma forma, sua experiência em um jogo é única e pessoal. O modo fácil não tira nada disso. Ele só garante que mais pessoas possam aproveitar o jogo à sua maneira.
Jogos São Para Todos
No fim do dia, os videogames são uma forma de entretenimento. Eles podem ser desafiadores, emocionantes, relaxantes ou qualquer combinação dessas coisas. E o modo fácil é apenas mais uma ferramenta para garantir que todos possam se divertir.
Se você é um jogador hardcore, continue se desafiando. Bata recordes, domine mecânicas, destrua chefões. Mas lembre-se de que nem todo mundo quer ou pode jogar da mesma forma que você. E tudo bem. Porque, no final das contas, o mais importante não é como você joga, mas sim que todos possam jogar.